quarta-feira, 29 de julho de 2009

Exílio

Vivo confinada
num mundo á parte, que inventei.
Uma geografia da solidão, sem luxúria, sem inferno...
Isolada.
Um refúgio cujas portas e janelas
dão pra dentro de mim.

Quieta, conduzo as canções que sempre amei
como um maestro sem batuta.

Voraz, ali vivo como quero.

Presa numa fingida santidade costuro dores antigas como flores de fuxico e as guardo como segredos dentro de caixinhas de música.

Nas noites sem couraça, decifro os sonhos que se recusam a envelhecer e que dançam alegremente entre os sonhos recentes que ainda jovenzinhos dão seus primeiros passos.

E quando tudo parece perfeito,
sinto você compartilhando meu exílio...

Mas estás tão distante que não adianta mais jogar a corda
Eu não te alcanço mais.
o vento é forte
E a correnteza leva tudo mesmo.

Negocio com o inevitável, te deixo ir, e continuo seguindo.

Nos dias claros,sento pra apreciar o por de sol.
Ao meu lado, eu mesma, aos 7 anos.

A garotinha me fala do amor pelo seu irmãozinho e de repente os dois saem brincando felizes como se nenhuma tragédia os tivesse atingido.

A liberdade é mesmo indecifrável...

Quando meus olhos me brindam com o impossível
percorro meu mundo descoberto
onde meu pai me olha com seus olhos verdes calmos
e caminha em minha direção com seus tamancos
me cantando uma canção sem cicatrizes - Ó Maria, tu és a mais bonita de todas que eu amei...

E eu choro.

Benvida é minha mãe que chega em meu socorro, e com seu longos e antigos cabelos seca os meus olhos de mansinho.

É quando tudo se completa, e me sinto abraçada nessa fórmula perfeita.

E quando preciso voltar pra minha vida inquilina,
Vou desolada.
Esperando que meus pés encontrem, sozinhos, o caminho.

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