Olho-me no espelho e não reconheço a mulher
Que um dia se vestiu de alegria e que tinha nos olhos o brilho do cristal.
Agora, os cabelos espessos, os olhos sem vida
A pele seca rastreia a chegada do tempo.
Os sonhos dilacerados,
Os dilemas sem medidas denunciam o que o espelho
não tem medo de esconder.
As rugas recentes aparentes enfeitam a carne fria.
Os olhos mortos me anunciam
que as encruzilhadas são desprovidas
de misericórdia.
As encruzilhadas estão paradas no mesmo lugar.
Tal qual os anjos da morte.Esperando-me.
O espelho e a mulher-realidade.
Uma mulher-mortalha, fúnebre como as tumbas dos reis mortos.
O espelho me mira, me acusa, me anuncia:
Sonhos, felicidades não fazem parte da minha vida.
Sou um pobre espectro sugando o passado.
Vivendo num mundo à parte, alheio, marginal.
Navegando em loucuras impostas pela minha mente reflexa
Em matizes de cores dos quadros que nunca pintei...
Alimentando-me de palavras esquecidas dos poemas que nunca compus.
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